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O evento canônico na vida de uma mãe: faz o xixi no palitinho, sobem duas listras indicando o positivo e, no mesmo instante, a postura de grávida toma conta da nossa coluna… e a culpa nasce.


E começamos a ouvir — e a repetir — a bendita frase: “Nasce uma mãe, nasce uma culpa.”


Mas e se a culpa fosse apenas uma pequena sensação que eu posso controlar?


Eu diria que a minha relação com a culpa materna é a minha maior conquista de autoconhecimento na parentalidade. Encarar a culpa de forma mais organizada e dar uma utilidade a ela é o meu autocuidado favorito.


Logo após o nascimento do Bê, senti-me entregue a uma culpa que consumia todos os momentos bons e memoráveis. Acho que todas as boas memórias que tenho dos primeiros 18 meses de vida do Bê estão combinadas com sentimentos de culpa intensa.


Com o passar do tempo (e aqui leia-se: terapia, leituras, desabafos e suporte emocional), consegui ampliar meu olhar sobre a culpa materna e a função dela no meu dia a dia. De uma forma bem esquisita, a culpa me fazia sentir completa. O sofrimento era meu prêmio de “mãe do ano”, porque quanto mais fundo no poço eu me sentia, mais acreditava que estava acertando — mais eu sentia que era validada por mim mesma.


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Percebo esse padrão na forma como a maioria das mães chega aos atendimentos de aconselhamento parental.


Então, muita reflexão depois, ficou evidente que o que mudaria minha forma de maternar era mudar a maneira como eu enxergava a culpa materna. Não adiantava tentar eliminá-la por completo, porque ela faz parte dos sentimentos que me tornam vulnerável e disposta a mudar. Mas também não era saudável torná-la o centro do meu estilo parental.


Foi lendo o livro Pais e Mães Conscientes, da Dra. Shefali Tsabary, que consegui nomear a função que a culpa deveria exercer na minha parentalidade: a de sinal de fumaça.


A culpa é um sinal de que pode haver algo a ser mudado. Algo a ser ajustado. E, sempre que ela vem, faço a mim mesma estas duas perguntas:


Há algo que eu possa fazer para ajustar essa situação?

Se existe, posso fazer isso dentro do meu contexto atual?


Vou dar um exemplo prático: recentemente fui atingida pela culpa ao deixar meu filho na escola e ele pedir para faltar... Ao deixá-lo, com lágrimas nos olhos, senti uma necessidade enorme de colocá-lo de volta no carro e voltar para casa. Me questionei: há algo que eu possa fazer? De início, a resposta foi: “Não, você tem famílias para atender e ninguém para cuidar dele.” Voltando para casa, ainda pensativa, lembrei: “Mas você só tem atendimentos até às 11h30, e a casa bagunçada pode esperar.” Então, busquei meu filho às 12h (2h30 mais cedo que o horário normal). Era o que eu podia fazer.


Uma Beca antiga teria dito: “Cancelo os atendimentos” ou “Deixo ele na tela enquanto atendo.” Uma Beca um pouco mais recente diria: “Ah, é o que tem e pronto.” A Beca de hoje achou um meio-termo.



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Após decidir buscá-lo mais cedo, a culpa se esvaiu completamente, porque encontrei uma solução que funcionava. Muitas vezes não tenho soluções porque as circunstâncias não abrem essa porta. E, ainda assim, consigo sentir a culpa esvair — porque ela é apenas um sinal, uma chamada para a reflexão. E é assim que vou tratá-la.


Eu ouso dizer que hoje educo sem culpa. Não porque a culpa não faça parte do meu dia a dia, mas porque ela tem apenas uma participação simples no meu jeito de educar — ela cumpre sua função e nada mais.


E tenho certeza de que a maioria de nós estaria em uma paz muito maior com a nossa parentalidade se parássemos de dar à culpa mais espaço do que ela deveria ter. Por isso, o mantra: “A culpa não é o caminho, é o sinal.”

 
 
 

"A melhor forma de educar sua criança é se conectando com ela." Mas e quando isso não é natural para mim?


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Por muito tempo, me conectar com o Bernardo foi um desafio. Uma relação conectada com uma criança exige um nível de autocontrole e dedicação que nenhuma outra relação exige. Além disso, muitos conteúdos sobre parentalidade são cheios de firulas que fazem parecer que educar com consciência e conexão é um privilégio para poucos.


Eu não penso assim.


Acredito que a Parentalidade Consciente pode ser mais simples do que o Instagram faz parecer que é, especialmente a conexão com as crianças. Gosto de resumir com o seguinte mantra:


"Conexão é intenção."


O mais simples dos momentos podem ser sobre conectar-se com a criança se houver a intenção de fazer isso.


Uma historinha antes de dormir pode ser só uma leitura para a criança dormir mais rápido, ou pode ser uma forma de estabelecer uma conexão real se eu me engajar em uma conversa, fazer perguntas intencionais e não estiver mais preocupada com o momento seguinte do que com o momento que estou vivendo agora.


Ao contrário do que muitos nos farão pensar, conexão não é sobre uma grande quantidade de tempo com a criança. Há pais extremamente conectados com seus filhos que trabalham jornadas de trabalho de 10-12 horas e pais que lutam para se conectar com sua criança estando 24 horas por dia com eles.


Então para provar que podemos nos conectar melhor com nossos filhos a partir de hoje, darei algumas sugestões de como simplificar isso!


ESTRATÉGIAS QUE FACILITAM CONEXÃO COM SUA CRIANÇA:


  1. Momentos Fixos dedicados à conexão:

    Escolher estrategicamente um ou dois momentos diários que sejam mais fáceis para estabelecer essa conexão. É construir um hábito de estar presente com sua criança sem distrações nesses pequenos períodos;


  2. Qualidade é melhor que quantidade:

    Dez minutos longe do celular, ignorando a máquina de lavar que terminou o ciclo e brincando de algo que seu filho ama vale muito mais que 1h de brincadeiras elaboradas mas regadas ao uso do celular e interrupções para estender roupa, lavar louça... O "momento conexão" é sobre ter um tempo que é 100% da criança, mesmo que esse tempo seja curto;


  3. Menos é mais

    Quando mostro nossos "momento conexão" lá no Instagram vocês vão perceber que raramente envolvem atividades elaboradas ou passeios cheios de firulas. Os momentos que mais nos conectamos com nossos filhos costumam ser aqueles despretensiosos: escovando os dentes juntos, na conversa antes de dormir, no caminho para a escola.


Eu gosto de dizer que saber estabelecer uma relação conectada é uma grande carta na manga, porque ameniza a maioria dos problemas que temos no dia a dia com nossos filhos (resistência a ir para a escola, dificuldade para dormir, birras, etc). Por isso, se eu tivesse que indicar apenas um esforço para pais que querem educar com mais consciência seria: aprenda a estabelecer momentos de conexão.


Para ajudar, vou listar alguns dos momentos que temos aqui em casa e como trabalhamos para eles existirem:


  • Antes de ir para a escola: ao acordar a primeira coisa que o Bê recebe de nós é a nossa presença e o que ele fará com isso é decisão dele (ficar de chamego antes de levantar ou ir para a sala brincar). Para isso, acordamos um pouco mais cedo que ele para dar conta da rotina corrida da manhã;


  • Logo depois da escola: quando chegamos em casa, mesmo que tenha muitas coisas para fazer, me disponibilizo por alguns minutos para conversar sobre o nosso dia - e eu que inicio a conversa contando sobre o meu dia. Para isso, costumo já deixar um lanche preparado antes de buscá-lo e, quando possível, adianto algum serviço doméstico que pode me distrair desse momento;


  • Antes de dormir: a rotina do sono para nós começa com um tempo juntos em família e sem dispositivos eletrônicos (mesmo que por apenas 5 minutos) e aí fazemos a rotina de higiene e a última coisa antes de dormir é ler uma história e conversar sobre o que foi bom e o que foi ruim no nosso dia. Para isso, começamos a rotina de sono mais cedo para dar tempo de fazer tudo com mais calma.


Esses são exemplos que, ao longo dos anos, fomos lapidando e alterando conforme as nossas circunstâncias permitiam e fazendo da conexão com o Bê uma prioridade.


Precisamos encarar a conexão com nossos filhos da mesma forma que encaramos a alimentação e o sono deles: como algo essencial, uma necessidade básica.


No começo realmente pode ser um grande desafio, mesmo os 5 minutos que parecem pouco, mas a boa notícia é que com o tempo aumentamos nossa "resistência" e conectar-se se torna mais natural. É questão de prática, mesmo.


Eu tenho certeza que priorizar esses pequenos momentos trouxe as maiores mudanças que já vi no comportamento do meu filho e no meu. E saber que os pequenos ajustes são os que mais transformam nossa parentalidade traz paz e certeza de que educar com consciência e respeito é possível para todas as famílias.

 
 
 

Alerta de gatilho: violência, assassinato e conteúdo sensível.

Alerta de spoiler.

Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix
Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix

Assisti a série Adolescência, disponível na Netflix, e a primeira coisa que ficou muito claro para mim foi: falta limite, mas também falta afeto. Para muitos essas duas coisas não podem coexistir, mas a série deixa claro que elas coexistem e são uma combinação perigosa.


Caso você não tenha assistido, aqui vai um breve resumo: Jamie Miller, um adolescente de 13 anos, é acusado de assassinar uma colega de escola, Katie, da mesma idade. Apesar de não ser baseada em fatos reais, retrata uma realidade que, na maior parte do tempo, estamos dispostos a ignorar. Mas ela existe.

Antes de tecer todos meus comentários sobre a série e seu impacto para nós, pais e mães, quero dizer que não considero os pais que citarei aqui culpados pelas ações de seus filhos, mas reconheço que há um nível de responsabilização que todos temos que reconhecer quando se trata do que nossos filhos menores de idade fazem. Ao final, vou dizer o que enxergo ser possível de fazermos, como pais, para minimizar os riscos dos cenários apresentados na série.


O primeiro episódio começa tirando o acusado do pedestal que muitos poderiam colocá-lo: ele é um garoto assustado e toda a coragem que talvez se esperasse de um assassino é rapidamente desmistificada com a imagem de um menino que chama pelo pai, chora e tem medo de encarar consequências, especialmente da solidão que as consequências podem causar.


Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix
Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix

Por ser menor de idade, Jamie tem o direito de ser acompanhado por um adulto à sua escolha - neste caso, o pai dele, Eddie Miller - durante procedimentos como revista sem roupas, exames de sangue e interrogatório. É aqui que a dinâmica entre pai e filho evidencia o que é um dos catalisadores de comportamentos agressivos de boa parte dos adolescentes, especialmente do gênero masculino: a distância emocional que os adultos estabelecem com os adolescentes. Ao final do episódio vemos que Jamie já apresentava sinais de uma agressividade descontrolada e nada funcional, que ninguém via, nas horas a fio que ele passava no computador.


O segundo episódio é, na minha opinião, o plano de fundo que explica onde estamos como adultos: em uma realidade paralela à dos adolescentes. Isso fica muito evidente na conversa do detetive Bascombe (responsável pelo caso que investiga Jamie) com seu filho. Há uma dissonância, uma parede invisível que impede uma comunicação clara entre os dois. É quase como se ambos estivessem falando idiomas diferentes. Graças à conversa, pouco eficaz em termos emocionais, mas informativa, o detetive e sua parceira, detetive Frank, percebem a dinâmica que existia entre o acusado e a vítima e descobrem que o buraco que os adolescentes estão vivendo é bem mais embaixo do que eles imaginavam. E esse buraco tem nome: Instagram. E aqui, acrescento: toda e qualquer rede social.


Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix
Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix

O caos da escola evidencia a falta de limites que se instaurou em grande parte dos ambientes escolares, por vários motivos, mas especialmente pelo corpo docente apresentar apenas duas abordagens: permissividade ou autoritarismo. Ambas são disfuncionais. A escola tem uma energia caótica, o bullying acontece às claras e o tempo todo, os professores gritam e brigam e os alunos estão extremamente hiperestimulados. É o combo que leva os adolescentes à buscar refúgio em seus celulares e no acesso irrestrito à internet.


O terceiro episódio retrata uma entrevista/conversa da psicóloga responsável pelo relatório que vai compor o caso do Jamie. E olha, aqui é que as peças vão se encaixando. E essas peças estão na infância do Jamie e na visão dele das figuras masculinas de sua vida. E, ao contrário do que a maioria poderia esperar, não há registros nítidos de homens violentos, mas há evidência nítida de homens emocionalmente indisponíveis e mais, homens emocionalmente evasivos.



Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix
Série Adolescência da Netflix Foto: Reprodução/Netflix

No quarto e último episódio acompanhamos os pais e irmã de Jamie tentando viver um dia normal de comemoração de aniversário do Eddie. E, de forma quase irônica, é nesse episódio que vemos o luto de tudo que se foi com o crime cometido por Jamie. É nesse momento que o pai, figura central da narrativa nesse episódio, se dá conta que precisa admitir sua ausência emocional e suas consequências para Jamie. A cena dele pedindo perdão ao filho me tirou lágrimas: dá para ter empatia por esse homem que achou que estava fazendo o melhor estando ausente e ignorando suas próprias feridas. Em determinado momento, Eddie se comporta de forma bastante violenta quando se sente motivo de chacota. Exatamente o motivador do crime de Jamie.


Num geral, a série retrata o que já deveria ter sido entendido por nossa geração: as redes sociais são perigosas e se tornam mais perigosas a cada atualização.


Diferente do que vi em outras resenhas, não creio que a série seja sobre achar culpados que levaram Jamie a assassinar sua colega de classe. Para mim, a mensagem central da série é alertar sobre o perigo do combo "acesso irrestrito e sem supervisão à internet + ausência emocional + educação tradicional" pode causar.


E me perguntam: o que faço agora que vi que essas atrocidades existem? Como faço para que meu filho ou filha jamais caiam nessas mesmas ciladas?


Eu começaria por admitir que essa realidade existe, por mais desesperadora que ela seja. E que sua existência exige que nos eduquemos para educar. Reconhecer a existência dessas possibilidades nos dá a chance de quebrar o ciclo, começando pelo meu ciclo de dissociação emocional dos problemas que me cercam.


Mas, de uma forma mais objetiva, minha orientação será:

  • Construir desde já - não importa a idade da sua criança - uma relação pautada na confiança mútua. Seu filho precisa confiar em você e ele só confiará se não tiver medo de você;


  • Desenvolver a partir de hoje um hábito intencional e consciente de conhecer meu filho e participar do mundo dele, precisamos saber o que eles gostam de fazer, quais jogos mais gostam, quem são seus amigos;


  • Limitar a idade mínima para acesso às redes sociais (idade mínima determinada pelo Instagram é 13 anos, mas os pais devem se certificar de que o adolescente está pronto para tamanha exposição);


  • Limitar e supervisionar, de forma assertiva o acesso à internet (existe a necessidade do respeito à privacidade e posso falar disso em um outro post);


  • Reconhecer que adolescentes precisam socializar. Eles farão isso mesmo que não possam sair de casa, através da internet. Precisamos ser facilitadores dessa socialização de forma saudável;


  • Lembrar que estar dentro de casa não significa segurança se sua criança tiver acesso irrestrito à internet;


  • Entender que o mundo que seu adolescente vive não é o mundo que você viveu, então precisamos agir diferente da forma que agiram conosco.


Eu sou realista e penso que não conseguimos assegurar, com plena certeza, que nossos filhos trilharão o caminho mais honesto e saudável o tempo todo. O que podemos fazer é reduzir os riscos de escolhas questionáveis através de conexões reais com eles. Mas sou otimista e penso que educando com o respeito e a gentileza que ensina, mas acolhe, temos grandes chances de entregar para sociedade adultos emocionalmente estáveis, empáticos e conscientes do seu papel no mundo.


Assista aqui o trailer da série:









 
 
 
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