- Beca Yamashita

- 5 de mai.
- 3 min de leitura

O evento canônico na vida de uma mãe: faz o xixi no palitinho, sobem duas listras indicando o positivo e, no mesmo instante, a postura de grávida toma conta da nossa coluna… e a culpa nasce.
E começamos a ouvir — e a repetir — a bendita frase: “Nasce uma mãe, nasce uma culpa.”
Mas e se a culpa fosse apenas uma pequena sensação que eu posso controlar?
Eu diria que a minha relação com a culpa materna é a minha maior conquista de autoconhecimento na parentalidade. Encarar a culpa de forma mais organizada e dar uma utilidade a ela é o meu autocuidado favorito.
Logo após o nascimento do Bê, senti-me entregue a uma culpa que consumia todos os momentos bons e memoráveis. Acho que todas as boas memórias que tenho dos primeiros 18 meses de vida do Bê estão combinadas com sentimentos de culpa intensa.
Com o passar do tempo (e aqui leia-se: terapia, leituras, desabafos e suporte emocional), consegui ampliar meu olhar sobre a culpa materna e a função dela no meu dia a dia. De uma forma bem esquisita, a culpa me fazia sentir completa. O sofrimento era meu prêmio de “mãe do ano”, porque quanto mais fundo no poço eu me sentia, mais acreditava que estava acertando — mais eu sentia que era validada por mim mesma.

Percebo esse padrão na forma como a maioria das mães chega aos atendimentos de aconselhamento parental.
Então, muita reflexão depois, ficou evidente que o que mudaria minha forma de maternar era mudar a maneira como eu enxergava a culpa materna. Não adiantava tentar eliminá-la por completo, porque ela faz parte dos sentimentos que me tornam vulnerável e disposta a mudar. Mas também não era saudável torná-la o centro do meu estilo parental.
Foi lendo o livro Pais e Mães Conscientes, da Dra. Shefali Tsabary, que consegui nomear a função que a culpa deveria exercer na minha parentalidade: a de sinal de fumaça.
A culpa é um sinal de que pode haver algo a ser mudado. Algo a ser ajustado. E, sempre que ela vem, faço a mim mesma estas duas perguntas:
Há algo que eu possa fazer para ajustar essa situação?
Se existe, posso fazer isso dentro do meu contexto atual?
Vou dar um exemplo prático: recentemente fui atingida pela culpa ao deixar meu filho na escola e ele pedir para faltar... Ao deixá-lo, com lágrimas nos olhos, senti uma necessidade enorme de colocá-lo de volta no carro e voltar para casa. Me questionei: há algo que eu possa fazer? De início, a resposta foi: “Não, você tem famílias para atender e ninguém para cuidar dele.” Voltando para casa, ainda pensativa, lembrei: “Mas você só tem atendimentos até às 11h30, e a casa bagunçada pode esperar.” Então, busquei meu filho às 12h (2h30 mais cedo que o horário normal). Era o que eu podia fazer.
Uma Beca antiga teria dito: “Cancelo os atendimentos” ou “Deixo ele na tela enquanto atendo.” Uma Beca um pouco mais recente diria: “Ah, é o que tem e pronto.” A Beca de hoje achou um meio-termo.

Após decidir buscá-lo mais cedo, a culpa se esvaiu completamente, porque encontrei uma solução que funcionava. Muitas vezes não tenho soluções porque as circunstâncias não abrem essa porta. E, ainda assim, consigo sentir a culpa esvair — porque ela é apenas um sinal, uma chamada para a reflexão. E é assim que vou tratá-la.
Eu ouso dizer que hoje educo sem culpa. Não porque a culpa não faça parte do meu dia a dia, mas porque ela tem apenas uma participação simples no meu jeito de educar — ela cumpre sua função e nada mais.
E tenho certeza de que a maioria de nós estaria em uma paz muito maior com a nossa parentalidade se parássemos de dar à culpa mais espaço do que ela deveria ter. Por isso, o mantra: “A culpa não é o caminho, é o sinal.”





