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O humor não é passe livre para ofensas e apologia à violência. Isso é óbvio, certo?


Acredito que esses casos polêmicos que tomam conta da mídia são oportunidades para aprofundarmos a reflexão sobre como chegamos ao ponto de pessoas se sentirem à vontade para falar, em público e em plataformas de grande alcance, esses absurdos sobre crianças, mulheres e minorias em geral.


Mas, pra quem teve a sorte de não saber do que a internet está falando, aqui vai um breve (breve mesmo) resumo da polêmica:


Um “humorista” com muito alcance nas redes e nos palcos vem sendo alvo de “polêmicas” por suas “piadas” com apologia à violência e ao abuso físico e sexual contra crianças e mulheres — além de falas racistas e capacitistas (gabaritando minorias, sim). Nesta semana, ele foi condenado em primeira instância por parte dessas falas publicadas em seu canal no YouTube (leia o processo aqui)


E a internet parece dividida entre os que falam o quão absurdo é alguém ter a liberdade de dizer tais atrocidades e os que sentem que devem defendê-lo sob a alegação do direito à liberdade de expressão.


Agora que você já está mais por dentro do assunto, quero aprofundar a conversa para entendermos como chegamos até aqui.


O extremo nos assusta, mas, para que alguém se sinta confortável em dizer essas coisas, é necessário:


• um público fiel que o defenda, ria, ache graça e se sinta representado por essas falas;

• normalizar situações “menores” que também violam os direitos das crianças.


Basta entrar em qualquer rede social para ver quantas pessoas estão apoiando um “humor” que envolve a chacota com crianças. Frases como “odeio crianças”, conteúdos “cômicos” de influenciadores debochados que engajam com vídeos que incentivam violência e a desumanização das crianças, trends que expõem crianças em seus momentos vulneráveis ou que usam sua inocência para “fazer rir.” É aí que começa a normalização do uso da imagem de meninos e meninas — e de qualquer outra minoria — para entreter à custa da dignidade deles.


Quantas vezes já rimos de vídeos que mostram crianças em situações vexatórias?


Indignar-se com o que o “comediante” disse é superficial se não analisarmos como chegamos ao ponto de alguém como ele dizer o que diz.


E é por isso que eu — e muitos outros profissionais da infância — insistimos na necessidade de proteger a infância com nossos “mimimis” e “exageros”. Porque, se não pararmos de nos entreter às custas da inocência e da vulnerabilidade das crianças, pessoas como o dito “humorista” continuarão a surgir. Continuarão a se sentir seguras para dizer, em forma de “piada”, absurdos que incentivam a violência contra crianças, que fazem apologia ao abuso sexual e que são amplamente defendidos por quem se identifica com esse discurso que, na prática, é fatal para muitas crianças no mundo.


Defender a infância não pode ser apenas defender os nossos filhos. Defender a infância é pensar em como precisamos nos envolver, de verdade, para que a internet não seja uma terra sem lei onde se insiste em vulnerabilizar a infância.


“Mas o que fazer, então?”


Seguir firme numa educação que respeita crianças e as trata com humanidade. Não compactuar com quem defende esses discursos e, sempre que possível, defender a dignidade das crianças.


Quanto mais constrangimento — através das nossas atitudes conscientes — esses “piadistas” sentirem, menor será a coragem de dizer o que pensam. E esse silêncio será um benefício para todos.


Gosto de acreditar, de forma otimista, que somos um número considerável de pessoas que se indignam com essas falas. E gosto de acreditar, principalmente, que jamais permitiremos que falem nada parecido — ou remotamente desrespeitoso — com crianças na nossa presença.

 
 
 

Nada me deixou mais perfeccionista do que a maternidade.


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Sempre me considerei extremamente autocrítica, mas, nos dois primeiros anos de vida do meu filho, atingi um nível inexplicável de necessidade de acertar sempre — o tempo todo.


E, ao contrário do que eu dizia para mim mesma, eu falhava mais do que acertava. O saldo era sempre negativo, porque o perfeccionismo me levava a dois estados muito prejudiciais:


  • Por medo do erro, buscava justificativas para o injustificável.

  • Terceirizava a culpa e fugia da autorresponsabilidade.



Vou dar um exemplo prático: estávamos numa festa junina e eu estava me divertindo muito. Mas era um local barulhento, e o Bê já dava sinais de sono. Ele precisava de uma soneca, mas eu não queria ter que colocá-lo para dormir. A consequência veio: ao chegar em casa, ele estava extremamente cansado — no ápice do choro, do grito e da resistência.


A culpa me atingiu. Eu sabia que tinha responsabilidade por aquela situação, mas comecei com as justificativas:

“Eu não posso nada, no único dia que me priorizo recebo essa ingratidão.”

E depois veio a terceirização da culpa:

“O Henrique deveria ter dito que era hora de ir embora. Agora ele está chorando e só eu posso consolar.”


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O erro não foi priorizar minha diversão. O erro foi não me autorresponsabilizar pelas consequências de uma atitude que não foi certa nem errada. Ao decidir permanecer na festa, eu precisava ter me autoconscientizado:“Isso pode deixá-lo cansado. Será que estou disposta a lidar com essa consequência?”

Percebe a diferença?


Deixar a necessidade de acertar de lado significa aceitar as consequências das nossas decisões com consciência — e entender que o que mais importa não é o acerto ou o erro, mas a forma como eu encaro o que acontece em decorrência das minhas escolhas.


Eu sigo lutando diariamente contra meu perfeccionismo. Meu piloto automático é encontrar os defeitos em tudo e em todos. Mas nadar contra essa maré interna é um esforço que vale a pena — se isso significa evitar que meu filho cresça com a mesma necessidade incontrolável de evitar os erros.

 
 
 

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Eu mal me lembro do meu primeiro Dia das Mães… estava no auge do puerpério, em pleno confinamento da pandemia. Mas há algo de que me lembro muito bem: a sensação de não ser reconhecida pelo imenso trabalho que eu vinha fazendo como mãe.


Sendo bem honesta, não me recordo exatamente o que causou essa sensação. O Henrique certamente fez algo especial (provavelmente um café da manhã), porque ele sempre fez questão de comemorar datas importantes. Mas, ainda assim, eu senti que não era suficiente diante de tudo o que eu estava entregando.


No meu mundinho, emocionalmente isolada, lidei muito mal com isso. Em algum momento, porém, percebi que eu precisava que as pessoas ao meu redor enxergassem os meus esforços — mesmo que isso me obrigasse a ser mais sincera, direta e a encarar conversas difíceis para ajustar o nosso relacionamento.


Com o tempo, o Henrique entendeu. E provavelmente isso não aconteceu durante uma briga, mas sim numa conversa sincera e difícil. Desde então, eu me lembro de cada Dia das Mães — uns melhores que outros — mas todos marcados por muito esforço e carinho, visíveis nos presentes atenciosos, cafés da manhã especiais e cartas amorosas.


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Mas a lição mais importante que eu aprendi foi: só é óbvio aquilo que é dito.


Num mundo onde as expectativas ficam guardadas apenas no nosso coração, falar sobre elas é o único caminho para sair da frustração.


Quantas de nós, que não recebemos reconhecimento no domingo de Dia das Mães, realmente dissemos o quanto isso era importante? Eu entendo: eles deveriam perceber sozinhos. Mas, se não percebem, devemos nos conformar? Eu acredito que não. Precisamos sair do automático de facilitar a vida dos adultos ao nosso redor em detrimento das nossas próprias vontades.


Espero, de coração, que, se o seu Dia das Mães foi marcado por frustração e falta de reconhecimento, você encontre coragem para ter aquela conversa difícil — e para exigir o reconhecimento que você merece.

 
 
 
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