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A armadilha de acertar sempre

Nada me deixou mais perfeccionista do que a maternidade.


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Sempre me considerei extremamente autocrítica, mas, nos dois primeiros anos de vida do meu filho, atingi um nível inexplicável de necessidade de acertar sempre — o tempo todo.


E, ao contrário do que eu dizia para mim mesma, eu falhava mais do que acertava. O saldo era sempre negativo, porque o perfeccionismo me levava a dois estados muito prejudiciais:


  • Por medo do erro, buscava justificativas para o injustificável.

  • Terceirizava a culpa e fugia da autorresponsabilidade.



Vou dar um exemplo prático: estávamos numa festa junina e eu estava me divertindo muito. Mas era um local barulhento, e o Bê já dava sinais de sono. Ele precisava de uma soneca, mas eu não queria ter que colocá-lo para dormir. A consequência veio: ao chegar em casa, ele estava extremamente cansado — no ápice do choro, do grito e da resistência.


A culpa me atingiu. Eu sabia que tinha responsabilidade por aquela situação, mas comecei com as justificativas:

“Eu não posso nada, no único dia que me priorizo recebo essa ingratidão.”

E depois veio a terceirização da culpa:

“O Henrique deveria ter dito que era hora de ir embora. Agora ele está chorando e só eu posso consolar.”


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O erro não foi priorizar minha diversão. O erro foi não me autorresponsabilizar pelas consequências de uma atitude que não foi certa nem errada. Ao decidir permanecer na festa, eu precisava ter me autoconscientizado:“Isso pode deixá-lo cansado. Será que estou disposta a lidar com essa consequência?”

Percebe a diferença?


Deixar a necessidade de acertar de lado significa aceitar as consequências das nossas decisões com consciência — e entender que o que mais importa não é o acerto ou o erro, mas a forma como eu encaro o que acontece em decorrência das minhas escolhas.


Eu sigo lutando diariamente contra meu perfeccionismo. Meu piloto automático é encontrar os defeitos em tudo e em todos. Mas nadar contra essa maré interna é um esforço que vale a pena — se isso significa evitar que meu filho cresça com a mesma necessidade incontrolável de evitar os erros.

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