Essa tal de "autonomia"
- Beca Yamashita

- 18 de nov.
- 2 min de leitura

Nada te prepara para o momento que você percebe que a sua criança está cada vez menos dependente de você e que isso não te alivia…
Faz uma semana que não preciso colocar o Bê para dormir. Uma semana que ele lê comigo, deita e me diz "boa noite mamãe, pode ir."
E aquilo que parecia ser algo tão bom, tão libertador… veio como um soquinho no estômago que me lembra que tudo, absolutamente tudo, é passageiro.
Quando ele tinha 6 meses, comprei um curso de sono. Meu objetivo era que ele não dependesse da minha ajuda pra dormir, ganhasse independência e eu pudesse fazer minhas coisas.
Agora são 20h36 e estou há 35 minutos meio perdida. Agora que ele dormiu sozinho e eu posso fazer minhas coisas, tudo que quero é estar deitada com ele na minha cama.
É engraçado, essa tal de autonomia. Eu acordo todos os dias empenhada em garantir que ele cresça com habilidades, entendimento e compreensão do que a vida exige para que ele seja funcional. Por que não é esse o objetivo? E aí, quando a autonomia se apresenta nua a crua na nossa frente… bem, nem sempre soa como uma vitória.
Eu sei de onde isso vem e o quanto tem camadas pouco saudáveis de como enxergo o crescimento do Bê e minha noção de autovalor como mãe.
Mas eu também sei que se eu soubesse dessa sensação mista que estou aqui sentido agora, eu certamente teria me importado menos com essa independência do sono há 5 anos. Eu teria cheirado aquela cabecinha de neném, teria olhando seus dedinhos minúsculos.
Eu não acredito que essa sensação de saudade seja universal nem que seja um determinante do quanto somos mães afetuosas. Mas para mim, esse aperto que só a saudade de algo que ainda nem acabou causa, é minha evidência de que eu quero muito estar onde estou agora.
Eu sei que crio ele para o mundo. E que talvez, em 15-20 anos, nos veremos cerca de 3-4x no ano. Eu sei que crio ele para ter confiança em si mesmo e, um dia, me ver apenas com gratidão e não como um recurso.
Mas, na calada da noite (nem tão calada porque falei disso com 3 amigas e com Henrique), me permito sentir que tudo que eu queria era parar o tempo, a
qui e agora, e sempre tê-lo bem aqui…
Dos dilemas maternos, esse é o que mais tenho dificuldade de aceitar: o crio para o mundo, mas ele sempre será o meu…




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