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Adultização de Crianças: O que o vídeo do Felca revela e como proteger nossos filhos.

Reprodução: Youtube
Reprodução: Youtube

O vídeo Adultização do Felca tomou a internet e chocou muita gente.


Eu assisti, e antes de comentar sobre ele, quero contextualizar pra quem ainda não cruzou com o assunto (se você já sabe do que se trata, pode pular o quarto parágrafo):


Na semana passada, o youtuber Felca (que tem muito alcance em várias plataformas) postou um vídeo detalhando e denunciando perfis que usam imagens de crianças para monetizar na internet – especialmente meninas sendo erotizadas. Se você é pai, mãe ou cuidador de uma criança e não assistiu… recomendo que veja, mas com cautela: o tema é sensível e assusta, mas também alerta e educa.


O assunto levanta questões que estão assustando muito as famílias, mas este post tem o objetivo de acalmar e ajudar a refletir sobre como podemos proteger nossas crianças de forma prática e consciente.


Como é um tema extenso, vou dividir em 4 tópicos:


  1. Principais alertas que o vídeo traz;

  2. O que fazer para não contribuir com esse cenário;

  3. Como proteger nossos filhos sem pânico, mas com consciência;

  4. As medidas que eu tomo com meu filho.


1. Principais alertas que o vídeo traz.

Esse problema não é novo. Perfis que monetizam crianças existem há anos e não há regulamentação clara que as proteja nas redes sociais.


O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) tem diretrizes para proteger a infância e adolescência, mas aplicá-las no ambiente digital ainda é um grande desafio.


Na televisão e no cinema, crianças que atuam têm jornada controlada, acompanhamento profissional, regras sobre estudo, segurança e bem-estar. Ainda assim, vemos histórias de crianças tendo seu trabalho explorado. Já nas redes sociais, esse controle não existe. A linha entre vida privada e trabalho se torna perigosa e difusa.


E aí vem o ponto mais comentado e que mais assusta: a erotização infantil. Fotos e vídeos – gravados intencionalmente ou não – acabam em perfis de pedofilia. A pergunta que fica é:


até onde um vídeo inocente é realmente inocente para um predador?

Eu sei que o tópico da erotização infantil é o mais chocante do vídeo. E tem que ser — porque é urgente e intolerável. Mas existe outro ponto que, pra mim, foi quase tão assustador quanto: crianças e adolescentes trocando os estudos por “carreiras” na internet.


E olha… isso não é só uma escolha individual inocente. A desvalorização da vida acadêmica que vemos agora é um fenômeno que me arrepia, porque é uma das formas mais eficientes de manipular uma geração inteira.


Pense comigo: não é muito “conveniente” que, nos dias de hoje, estudar e desenvolver pensamento crítico esteja sendo tratado como “coisa ultrapassada”?


Isso não acontece por acaso. Normalizar o discurso de que “faculdade não serve pra nada”, de que “estudar filosofia é perda de tempo no ensino médio” não é só uma opinião. É um movimento que, de maneira planejada ou não, forma uma geração menos crítica, menos questionadora e, portanto, mais controlável.

Isso também deveria nos assustar profundamente.


2. O que fazer para não contribuir com esse cenário.

A primeira coisa é criar nossos filhos com consciência de mundo e deixá-los saber que somos porto seguro para dúvidas, medos e receios.


Dar a eles perspectivas de diversidade, senso crítico e consciência social é tão importante quanto adotar medidas de segurança digital.


Também precisamos denunciar conteúdos que violem a dignidade das crianças – e não apenas os sexualizados, mas também os vexatórios, que ridicularizam ou expõem os pequenos.


Normalizar “piadas” e “brincadeiras” ofensivas abre caminho para que conteúdos realmente perigosos se tornem aceitáveis.

Eu, pessoalmente, denuncio sempre que vejo algo assim e deixo de seguir o criador do conteúdo.


3. Como proteger nossos filhos sem pânico, mas com consciência.

O primeiro passo é entender as plataformas e como elas usam nossas imagens e dados.


Depois, seguir recomendações básicas, como:


  • Crianças menores de 13 anos não devem ter suas próprias redes sociais;

  • Atenção às roupas usadas nas fotos/vídeos – especialmente para meninas – e se estão compatíveis com a idade. (Sendo sincera aqui: meninas de 5 anos de cropped? Sério?);

  • Respeitar o tempo de tela seguro para cada faixa etária;

  • Usar streamings com controle parental (muito cuidado com o Youtube);

  • Respeitar a classificação indicativa de filmes, séries e músicas. (Sendo sincera de novo: meninos cantando músicas que sexualizam mulheres e meninas cantando músicas que objetificam o próprio corpo? Não dá.);

  • Supervisionar os jogos e conteúdos consumidos pelas crianças. Elas não devem ter livre acesso à internet e a função de garantir a segurança digital é das plataformas e dos responsáveis.


4. As medidas que eu tomo com meu filho

Vocês sabem: eu posto o Bê eventualmente no meu perfil. Não vou ser hipócrita aqui: sei que existem riscos e os assumo. E se vocês quiserem, posso até fazer um conteúdo específico falando só sobre isso e como enxergo a exposição dele.


Mas a verdade é que eu sigo regras — que ficaram ainda mais rígidas depois que assisti ao vídeo do Felca:


  • Vestimenta e exposição: as roupas do Bê são sempre adequadas para a idade e que cubram o corpo dele. Não posto fotos ou vídeos dele em momentos vulneráveis, como dormindo, chorando, no banho ou sem camiseta.

  • Tipo de conteúdo: ele não é o “personagem principal” do meu perfil. Não produzo conteúdo que tenha ele como fonte principal de entretenimento e também não faço publicidade que envolva o tempo dele de forma direta. O foco do meu perfil é a minha vivência, minha história e meu conhecimento — o Bê aparece como parte disso, mas nunca como produto ou atração central.

  • Uso de telas: ele só assiste streaming com controle parental ativado, por no máximo 1h por dia e sempre com supervisão. Ele já joga videogame, mas com regras claras: apenas jogos criativos, nunca online, e com supervisão redobrada.

  • Celular e aplicativos: ele não usa celular ou tablets e não tem acesso livre a telas. Todo consumo é feito na TV da sala, onde todos podemos ver. Ele não acessa TikTok ou YouTube, Instagram. Quando vê algum vídeo no Instagram, é sempre comigo e ele nem segura o celular, porque é importante que ele entenda que eu estou no controle daquele momento.

  • Privacidade e segurança: não autorizo a escola a divulgar fotos ou vídeos dele, justamente para evitar que se descubra onde ele estuda, pratica esportes ou frequenta. Também nunca posto stories em tempo real com ele. Ou seja: se vocês me virem mostrando uma foto dele na Liberdade, podem ter certeza de que já não estamos mais lá.


Eu sei que nada disso garante 100% de proteção. Na realidade, nada protege 100% — e essa é a verdade triste e difícil da infância hoje. Mas acredito que, com consciência e limites claros, conseguimos minimizar bastante os riscos.


O importante é não ficar paralisado pelo medo e o que realmente ajuda é transformar esse pânico inicial em ação e atitudes concretas para proteger nossos filhos e todas as crianças que pudermos alcançar.


Em breve, farei um post ensinando:

  • Como denunciar conteúdos vexatórios ou sugestivos.

  • Como denunciar abusos contra crianças de forma anônima.

  • Como registrar denúncias nos órgãos competentes.


O tema é pesado, mas necessário. Espero que esse texto tenha ajudado a conscientizar.


Um abraço,

Beca

1 comentário


beck.zaqueo
12 de ago.

Estava conversando sobre isso ontem no almoço com o pessoal do trabalho. Todos na mesa eram pais, exceto eu, e foi muito legal compartilhar o que aprendi com você. Há muita dúvida sobre quando dar acesso as redes sociais a crianças e adolescentes (regra dos 13 anos) e os desafios de criar filhos com tanta informação e excesso de dopamina. Post super necessário!

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